segunda-feira, 2 de abril de 2012

Entrevista: Eminem e Yelawolf [VIBE Magazine]



Depois que as fotos foram tiradas, Yelawolf sentou-se dentro de um trailer, de uma forma meio desajeitada em uma cadeira baixa. Eminem está próximo, inclinado para frente com os cotovelos sobre seus joelhos; o boné cobrindo seus olhos. Ele tem um símbolo de diamante que significa sobriedade pendurada em seu pescoço. Quando ele fala, espia por debaixo da aba do seu boné para fazer uma observação.


Essa é a primeira entrevista dos dois juntos, Yelawolf dirá mais tarde com entusiasmo. Naquele momento Eminem estava louvando seu novo ‘protégé’, um parceiro que por acaso também é branco.
“Claro que ele é branco” Eminem começa. “Mas eu estou escutando o que ele está dizendo e como está rimando, e ele não se parece com nada que eu havia ouvido antes. Ele não age como um rapper que quer parecer como eu ou como outro qualquer. Ele tem um som raro em sua voz, em seu delivery.”

VIBE: Você vem construindo a nova Shady Records desde que assinou com o Slaughterhouse. Como o Yelawolf se encaixa em sua versão global da Shady?

EMINEM: Não tenho certeza se há uma visão definida. Desde que eu passei por um assunto pessoal, depois de começar a ficar limpo, nosso único plano era restabelecer o selo. E eu tenho a fé de que ‘Yelawolf’ será um grande nome. Isso sempre foi empolgante para mim, porque eu amo demais o Hip-Hop a ponto de trazer novos artistas e ajudá-los a chegarem onde querem. Mas também é quase como se eu sentisse que estou ajudando o Hip-Hop.

Você mencionou sobre se tornar limpo. Você está completamente limpo nesses tempos em relação à álcool e drogas?

EM: Exceto pela Heroína que injetei essa manhã. Exceto isso, estou limpo. [Risadas]

Enquanto você está limpo, Yelawolf fuma maconha e...

YELAWOLF: Não, não fumo.

Eu ouvi você dizendo isso na sua música.

YW: Eu comecei a fumar maconha com 11 anos. Aos 12, eu usava pó. Aos 13 no ácido; aos 16 estava vendendo êxtase na escola. Não era porque eu me sentia bem, era porque eu era um lixo. Era chamada de balinhas de chocolate, e tinha heroína dentro. Eu levava isso para a sala de aula. Eu estava pegando muito pesado nas drogas, e tive uma esperiência ruim que durou por meses.

O que aconteceu quando você teve essa longa experiência?

YW: Você passa para o outro lado. [Risadas] Bom, eu fiquei para o lado da minha avó em Gadsden (Alabama) por um bom tempo. Usei algumas drogas diferentes, e eu tive uma experiência ruim que durou por alguns dias. Depois, eu dei uma parada e meu parceiro disse que cogumelos não eram o mesmo, então nós fomos a um pasto, pegamos a parte superior dos cogumelos e as misturamos com chá doce. Mas parei.

Como você se via e se sentia durante todos aqueles meses?

YW: Eu estava tendo alucinações ataques de ansiedade. Suicida. Tipo, eu não poderia viver do jeito que me sentia. Depois disso, eu não fiz merda por anos. Eu bebi água. Não fumei. Não fiz nenhum tipo de merda. Depois, eu comecei a beber um pouco, e em seguida, bastante. Eu tentei fumar maconha. Mas ela traria de volta a ansiedade. O por quê de eu sentir que tenho o direito de falar sobre isso, é porque eu fiz. Minha mãe continua fumando maconha até hoje. Eu tenho fotos minhas de quando eu tinha 5 anos de idade, em que eu estava ao lado de uma plantação. Mas eu nunca disse em uma música que eu fumo maconha.

Como você está lidando com isso tudo agora?

YW: Eu bebo, e tento ficar sóbrio. Na noite anterior da gravação de ‘Hard White’, eu briguei com um cara em um bar, e joguei minha cerveja toda nele. Eu realmente perdi a cabeça.

EM: Uma história bem familiar. [Risadas]

Você já usou muitos alucinógenos também?

EM: Não. Muito Valium. E Ambiem. Nenhum desses dois são alucinógenos. Ambiem é como um apagador de memória. Eu lembro que eu estive na TV por algumas vezes, e não lembrava que eu havia ido.

Yelawolf, você se juntou com Kid Rock em ‘Let’s Roll’. O que você lembra sobre quando o conheceu pela primeira vez?

YW: Eu sempre soube que haveria comparações quando comecei. É com isso que você lida estando com o Marshall e com o Kid Rock.

Você está dizendo que o fato de vocês serem brancos, sempre haverá comparações?

YW: Bom, logo no início, sim. Mas culturalmente, eu estava fazendo uma conexão com eles dois. Com o Kid Rock, era o país, sua conexão com a NASCAR, a rebeldia, o lado do selvagem garoto caipira. Meus tios são desse jeito. Eu cresci nesse mundo. No lado do Hip-Hop, Marshall trouxe isso. Eu senti que como se eu estivesse compartilhando elementos de cada um. Eu disse uma vez: “Um dia, quero conhecer os dois.” Juro por Deus. Eu coloquei isso na minha cabeça, e eu quis fazer isso acontecer. Eu não tinha idéia de que eu iria acabar na Shady, ou que eu iria um dia estar com o Marshall na casa do Kid Rock. Então isso foi surreal.

Então, quando você chegou (Na casa do Kid Rock), o que você viu?

YW: Quando chegamos, o Bob (Kid Rock) estava em um carro de golf do Waylon Jennings. Nós entramos e havia dois canhões em frente à sua casa. Vários artefatos americanos clássicos. Cartas do Johnny Cash em suas paredes. Pedaços de suas histórias em sua casa de shows, onde ele fazia abertura para o Too Short. Eu e o Marshall jogamos bola, e a propósito, eu ganhei.
VIBE: Então vocês estavam jogando basquete?

YELAWOLF: Você vai me deixar responder essa?! [Risadas]

EMINEM: Escute, vou deixar o leitor descobrir se ele está dizendo a verdade sobre quem ganhou.

Então ele ganhou de você, Yelawolf, como estavam jogando?

YW: Estávamos jogando 21*, e meu tornozelo estava machucado. (*’21’ é uma variação popular do basquete de rua. O jogo termina, claro, quando um jogador faz 21 pontos)
EM: Agora vêm as desculpas.

Foi muito feia a derrota?

YW: Eu cheguei perto, eu estava com o jogo na mão até o final, mas ele virou o jogo.

EM: Sim, ele chegou perto. Fez 4 pontos.

Kid Rock não jogou?

EM: Ele estava fazendo churrasco enquanto jogávamos.

YW: O Kid Rock não ganhou de você de chinelos?

EM: Você realmente quer que essa gravação vaze. [Risadas] Não, ele é bom. E não vou mentir, ele fez um grande ponto. Ele sabe jogar.

YW: Basquete, sabe... Esse cara tem uma fome de ganhar. [Apontando para o Eminem] É incrível, mas também muito divertido.

EM: Eu diria que sou uma pessoa bem competitiva.

Além de vocês dois serem rappers brancos que levaram suas qualidades a sério, o que mais vocês têm em comum?

EM: Houve uma vez na qual ele estava me contando uma história sobre quando era criança e teve um acidente de carro. Isso me deixou louco.

YW: Eu estava com a minha mãe quando o carro capotou. Eu tinha 5 anos de idade, mais ou menos. Eu e o Marshall éramos da mesma idade, e estávamos nós dois com nossas mães. Mas entrar num carro em ruínas era uma coisa. Outra coisa era o caminhão.

EM: Essa foi a parte mais louca. Eu lembro do nosso carro capotando. Minha mãe e eu estávamos na entrada de acesso à rodovia. Aquilo foi muito traumático. Eu me lembro que olhei pela janela traseira e vi um caminhão. Eu pensei que aquilo iria nos acertar. Pensei que iríamos morrer. E isso me deixou louco, porque ele passou pela mesma coisa.

YW: É, a mesma coisa. Um caminhão. Essa coincidência foi tão estranha que tive de ligar pra minha mãe para deixá-la terminar a história. Porque parecia que eu estava mentindo apenas para ter a mesma história dele. Pra você ver como isso tudo foi estranho.

Vocês dois também se mudaram bastante quando jovens, tanto de escola, quanto de casa. Vocês reconhecem isso na música um do outro?

YW: Muitos fãs têm essa relação com a vida do Marshall. A história das brigas é universal. Você não precisa literalmente viver aquilo para entender, mas muitas crianças estão na mesma situação. Eu vi 8 Mile quando estava em Gadsden (Alabama). Eu não cresci na atmosfera das batalhas de Hip Hop, mas o estilo de vida era parecido em muitas maneiras. Eu estudei em 15 escolas diferentes. A mãe solteira que era super rock n’ roll com seu namorado caipira. Eu tive de lidar com caipiras filhos da puta que não entendiam o por quê de eu amar o Hip Hop.

Eminem, qual conselho você oferece por ele estar sendo analisado por também ser um rapper branco? Vocês já falaram sobre sua cor nesse sentido?

EM: Fazemos brincadeiras sobre isso, mas eu não acho que eu devo falar muito sobre. Quando estou escutando a música, não penso em nenhuma dessas merdas. É apenas a música. Essa é uma das grandes coisas sobre isso. Eu nem penso nisso quando estou escutando a música.

YW: Nós fazemos essas brincadeiras porque é engraçado. Tipo, ele me chama de ‘Cachorro Branco’.

Ah, você o chamou disso na Cypher do BET Awards! Eu não percebi que era uma brincadeira.

EM: É, ou Carneiro Bege [Risadas]

YW: Que seja. Não é algo combinado.

EM: Nós já lidamos com isso o suficiente, agora vamos fazer música.

YW: Vamos fazer grandes músicas. No final do dia, é tudo o que há para fazer.

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Fonte: www.shady.com.br

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